sexta-feira, 4 de abril de 2008

Vazio

Fotografias. Um livro aberto numa página meio lida. Uma janela semi-aberta que deixa o sol entrar. Uma música que se espalha pelo ar e me voluteia os pensamentos. Aqui o tempo não pára e os ponteiros giram freneticamente. Consigo ouvir o som, cada vez mais rápido e mais sufocante. Sinto as palavras como balas que me atingem os sentidos. Os olhos cheios de lágrimas, os arrepios. Às vezes, como agora, sinto-me vazia. Sinto que não sou nada. O livro continua aberto na mesma página, a janela continua a deixar que o sol entre. Mas olho à volta e está tudo parado, tudo imóvel. É como se o tempo não passasse por aqui. E no entanto passa tão depressa que chega a doer. Leio em voz alta, sufoco-me a mim mesma. Não posso querer ser nada. A música mudou. Esta, sinto-a mais. É como se tocasse dentro de mim, como se cada nota saísse do meu interior e ao mesmo tempo se fechasse dentro de mim, impedindo que alguém a consiga ouvir. É tão harmoniosa como o girar do Mundo… lento, sossegado. Arriscar-me-ia a chamar-lhe perfeita. Relação tão antitética ao que sou. Às vezes tenho até medo de respirar. Às vezes, tenho medo que a minha respiração possa mudar o curso do mundo, tal como o faz o bater de asas de uma borboleta. Acho que já vivi isto. Talvez tenha sido numa destas noites, num dos meus muitos sonhos idiotas. Ou talvez seja mais um déjà vu como aqueles que tenho todos os dias, intermináveis vezes. Talvez descubra um dia. Talvez.

Apetece-me cair em mim, cair em ti. Chorar, mais uma vez.