sexta-feira, 27 de março de 2009

Noites

A cadeira da minha varanda espera-me, enquanto por casa impera o silêncio. Sento-me e limito-me a observar tudo aquilo que os meus olhos conseguem alcançar. Já anoiteceu e não consigo ver a Lua. Pelo contrário, ouço os carros e vejo as luzes. O meu vizinho da frente janta sozinho enquanto a mulher cumpre o ritual de se sentar horas seguidas em frente a um monitor. Os carros passam, os aviões levantam voo e levam consigo centenas de vidas para qualquer outro ponto geográfico que desconheço por completo. Às vezes tenho vontade de ir lá dentro, entregue a um destino qualquer que por enquanto também não conheço. Aquilo que me rodeia são apenas montes de vidas. Para onde quer que vá, é com elas que me cruzo. Olhares carrancudos, sorrisos ausentes. O que é que escondem as pessoas com as quais me cruzo todos os dias? Que segredos guardam e levam consigo?
É justamente quando aqui me sento e fito o horizonte que toda a minha vida me passa em revista pela mente. Com quantas pessoas me vou cruzar ainda? O que é que me vão trazer de novo? Que momentos me vão proporcionar, que segredos vamos partilhar? Quantas pessoas serão capazes de mudar a minha vida? Quantas gostarão de mim como sou e não me criticarão todos os dias? Quantas delas me vão amar? Quais delas vou eu amar? Afinal o que é que a vida reserva a cada um de nós? Eu sei que não devia gastar horas do meu dia a pensar em coisas que devia simplesmente deixar que acontecessem, mas torna-se inevitável tentar decifrar as incógnitas do futuro. As do passado já resolvi; e errei em tantas delas que choro por dentro só de pensar.
Não sei, de facto, o que vai acontecer. E prefiro que assim seja. Talvez amanhã seja eu a observada. Talvez amanhã me vejam a mim em frente a um monitor… ou talvez amanhã seja eu a ir no avião que alguém observa da janela de casa. Talvez tentem decifrar o meu destino como eu fiz hoje aos passageiros do avião. Façam-no. Percam tempo a tentar. O tempo há-de encarregar-se de me mostrar para onde é que tenho de ir.

24032009'20.46

sexta-feira, 6 de março de 2009

Mentiras

E o passar dos dias mostra-me que construíste tudo com mentiras. Tentaste prender o que não se prende, conseguiste, e fizeste-o com base numa série de enganos que hoje não encaixam na história que estás a viver. E eu vou vendo quão estúpida fui por acreditar em ti, por sempre acreditar em todas as tuas palavras, em todas as histórias que inventaste e com as quais me iludiste durante meses. Acho que chega de pensar, de sofrer. Eu já segui um atalho para não ter de me cruzar contigo continuamente. Deixa-me em paz por favor. Deixa-me caminhar sem que o teu fantasma me persiga ou sem que a tua sombra atraia a minha. Não vou deixar pedras a marcar o caminho porque não quero recuar mais. Quero esquecer.
Agora é tarde demais para esclarecer as tuas dúvidas, as tuas incertezas e os teus sentimentos. Um dia, vais perceber que todas as mentiras que me contaste, que todas as histórias que começaste e não terminaste ou que nem chegaste a começar me tornaram numa pessoa diferente daquela que conheceste. Mais amarga e mais fechada. E que infelizmente, deixou de conseguir confiar nas tuas palavras. Não tentes aproximar-te. Não tentes voltar a fazer de mim um objecto. Não tentes sequer enredar histórias porque não vou conseguir acreditar em nenhuma. Deixa de me perseguir. O fim do meu atalho não tem o teu nome. A estrada é toda tua. Corre (para longe).
Talvez um dia todas as ilusões que me criaste e todas as desilusões que me causaste sejam para ti também uma espécie de ilusão (ou de desilusão).